Mais da metade das famílias abaixo da linha da pobreza não recebe serviços de água e/ou esgoto

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Novo estudo realizado pelo Trata Brasil aponta que 51,7% das famílias abaixo da linha da pobreza não recebiam água com regularidade

O Instituto Trata Brasil lançou nesta terça-feira, 13 de julho de 2021, o novo estudo, ?As Despesas da Família Brasileira com Água Tratada e Coleta de Esgoto?, elaborado pela Ex Ante que traz um balanço inédito sobre os gastos familiares com serviços de saneamento básico nas cidades brasileiras, comparativamente a outras infraestruturas (energia, telecomunicações, gás).   O estudo se reveste de grande importância para podermos entender o peso das despesas em relação à necessidade dos serviços de água tratada, coleta e tratamento de esgotos para a qualidade de vida dos brasileiros.

Dados presentes no estudo expõe as despesas com saneamento por faixa de rendimento familiar. O estudo apontou que 25% das famílias brasileiras pertencem à classe de renda de até R$ 1,9 mil mensais, representando mais de 16 milhões de pessoas. Mais de 20% dessas famílias se encontravam em situação de pobreza em sete unidades da Federação, todas nas regiões Norte e Nordeste.

Além disso, o estudo mostra que 60% de quem recebia menos de R$ 1,9 mil não tinha acesso à coleta de esgoto, ou seja, 2 em cada 3 pessoas nessa faixa de renda habitava em moradias sem rede de esgoto. Das famílias abaixo da linha da pobreza, 51,7% não recebiam água com regularidade (diariamente e na quantidade exata), essa porcentagem equivale a 30% da população do país. Ademais, 67,5% das famílias abaixo da linha da pobreza não possuíam acesso à rede de esgotos.

Mapa 1 ? Participação das despesas das unidades de consumo abaixo da linha da pobreza no total das despesas com água e esgoto, por região, 2018

Os dados presentes no mapa demonstram que as regiões Norte e Nordeste do país têm as maiores participações nas despesas com água e esgoto, devido ao fato de apresentarem as maiores as parcelas da população que vive abaixo da linha da pobreza nessas regiões. Isso ocorre por causa dos elevados déficits de saneamento nesse grupo social e da própria privação de renda ? confira mais dados no estudo completo.

Além da questão da pobreza, há a questão da desigualdade elevada, medida pelo Índice de Gini. Esse índice consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade (no caso em que toda a população recebe a mesma renda) e 1 corresponde à completa desigualdade (onde uma pessoa recebe todo o rendimento e as demais nada recebem).O estudo apontou um índice de0,506 para o Brasil, isto é, um índice muito pior do que países de mercados mais consolidados, aonde a desigualdade de renda entre as famílias fica abaixo de 0,350, como Japão, Estados Unidos e as principais economias da União Europeia.

Mapa 2 ? Valor médio (em R$) das despesas com água e esgoto das unidades de consumo abaixo da linha da pobreza, por região, 2018

Fonte: Ex Ante/Instituto Trata Brasil

Mais da metade das famílias abaixo da linha de pobreza (renda diária per capita de U$ 5,50 conforme conceitos do Banco Mundial) não recebe serviços de água e/ou esgoto coletado. Entre as famílias que recebem serviços de saneamento e pagam por eles, as despesas com saneamento são quase do mesmo valor que a das famílias que estão acima da linha de pobreza ? R$ 53,92 contra R$ 69,49, como é demostrado no mapa acima.

A partir dos levantamentos realizados no estudo, os dados apresentados indicam a necessidade de avançar com políticas de universalização ao sistema de saneamento em conjunto com as políticas de tarifas sociais para grupos de extrema pobreza.

O Dr. Fernando Garcia, pesquisador do estudo, alerta ?É extremamente preocupante ver que os mais privados dos serviços são justamente as pessoas abaixo da linha da pobreza, fato que se repete ao longo dos anos. Até mesmo o atendimento irregular de água é muito mais comum nas casas dos mais pobres, o que também aumenta a vulnerabilidade pelo fato daquela família não receber água encanada 24 horas por dia e 7 dias por semana?.

*Foto: Antonio Cicero/Photo Press/Folhapress*

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