Saiba mais sobre o futuro da segurança hídrica do país!

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No dia 26 de agosto de 2020, o Instituto Trata Brasil, com apoio da The Nature Conservancy (TNC), lançou um novo estudo, intitulado de ?Demanda Futura por Água Tratada nas Cidades Brasileiras ? 2017 a 2040?, no qual mostra os cenários do consumo de água no futuro frente a novas perspectivas demográficas, econômicas e as mudanças climáticas.

O estudo tem como objetivo desenhar cenários de demanda futura de água nas moradias brasileiras até 2040, sob diferentes condições econômicas, demográficas e de padrão de consumo, com a intenção de amparar planejamentos de longo prazo em especial na gestão de recursos ambientais.

Visando isso, para o texto do blog de hoje entrevistamos Samuel Barreto, gerente nacional de água da TNC e do movimento água para São Paulo - MApSP da TNC, que nos contou mais sobre a atual e futura situação hídrica do país. Confira!

Samuel Barreto. Fonte: MudaTudo

- Qual o papel do meio ambiente na segurança hídrica das cidades brasileiras?

As soluções inspiradas pela natureza podem aumentar a quantidade e a qualidade da água. Estudos da ONU demostraram que o desmatamento, a pastagem mal manejada e o crescimento das cidades de forma inadequada diminuem a capacidade do solo em absorver as águas das chuvas, que em situação regular de cobertura florestal, ocorre lentamente via escoamento subterrâneo. Na ausência de cobertura florestal, com solos compactados e impermeabilizados, a tendência das chuvas é escorrer pela superfície e escoar rapidamente pelos cursos de água. Mas também amplia a vulnerabilidade com relação às secas cuja frequência tem aumentado decorrente de eventos extremos.

Já as bacias hidrográficas recobertas por florestas e bem manejadas apresentam melhores condições de infiltração da chuva, contribuindo para a recarga de aquíferos, para o

aprimoramento da qualidade da água e para a garantia da continuidade de vazão hídrica no período de estiagem e regulagem na época das cheias. Além disso, a redução na quantidade de sedimentos lançados aos rios em áreas com matas ciliares auxilia na diminuição de custos relacionados ao tratamento de água e desassoreamento. Estes representam apenas uma fração dos serviços ambientais que são essenciais e que precisam ser conservados e restaurados.

Para a TNC, a segurança relacionada aos recursos hídricos começa com a garantia da gestão adequada da bacia hidrográfica. Soluções focadas apenas em intervenções de engenharia e infraestrutura cinza não atenderão sozinhas à necessidade de garantir a segurança hídrica. A conservação de bacias hidrográficas é indispensável para garantir o suprimento de água no longo prazo com qualidade e em quantidade, para abastecer a população e para o desenvolvimento da economia inclusive para criar a resiliência climática. É o que pode ser observado com a Coalizão Cidades pela Água, criada pela TNC Brasil em 2015. Visa unir esforços da entre o setor privado, os governos e a sociedade civil na busca da segurança hídrica em 6 regiões metropolitanas brasileiras (RMBs), que reúnem 40 milhões de habitantes e respondem por mais de 35% do PIB nacional. No Brasil, fazem parte da Coalizão empresas como Ambev, Coca-Cola FEMSA, PepsiCo, Klabin e Praxair-White Martins, Kimberly-Clark, Faber-Castell, Arcos Dourados, McDonald?s, Unilever, Procter&Gamble e Bank of America Merrill Lynch. Até o momento mais de R$ 239 milhões de reais alavancados fortalecendo políticas públicas de recursos hídricos e saneamento proporcionando mais de 123 mil hectares (cerca de 123 mil campos de futebol) restaurados, conservados ou que estão sob melhores práticas do uso do solo, cerca de quatro mil famílias estão sendo beneficiadas, cerca de R$ 20 milhões de reais investimentos junto à proprietários rurais por meio de pagamento por serviços ambientais, entre outros benefícios onde todos saem ganhando. Especialmente porque o local onde essas intervenções de campo acontecem são áreas prioritárias para conservação e produção de água que chegam nas cidades.

- O Brasil perde quase 40% da água potável que produz por causa de vazamentos, roubos e erros de medição. Isso significa que a produção teria que aumentar ainda mais para que o país consiga entregar água para todo mundo que precisa em 2040?

De acordo com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), pelo menos nove estados brasileiros já ultrapassaram ou estão no limiar do déficit hídrico. Portanto, será necessário o investimento financeiro inteligente para promover o aumento da produção de água e segurança hídrica em todo o país combinando e equilibrando a balança da oferta e da demanda de água. E se mantivermos o modelo tradicional também chamado de ?business as usuais?, sim.

Mas os cenários futuros não nos oferecem essa opção, porque mesmo com manejo e investimentos inteligentes existem os limites ambientais relacionados às reservas de água. Ainda somos muito ineficientes e perdulários com um elemento que não há substituição e que é fundamental para a vida, que é a água. E precisamos inverter esse ciclo vicioso para um ciclo virtuoso. Sabemos que o cenário de distribuição de água para abastecimento humano no Brasil é um grande desafio. Mas para tratar o problema do déficit hídrico e da qualidade de água, será preciso equilibrar a gestão da demanda com a gestão da oferta. Do lado da oferta, a disponibilidade da água pode ser aumentada por meio da combinação de ações em infraestrutura cinza (conjunto de obras de engenharia para o fornecimento de água, coleta e tratamento do esgoto ), mas combinadas com as ações em infraestrutura verde também conhecidas como soluções baseadas na natureza como descrito acima. Porém, essa abordagem de natureza é ainda desconhecida ou pouco aplicada pela maior parte dos gestores de recursos hídricos e saneamento no Brasil.

Teremos que ser mais ousados para o avanço da agenda da água e do saneamento no Brasil. Precisaremos atuar para promover e acelerar soluções inovadoras com base científica para proteger, conservar e restaurar a saúde dos sistemas aquáticos criando resiliência climática com consequência promoção dos usos múltiplos. Transformar a maneira como as pessoas, governos e empresas utilizam e conservam os recursos naturais, incentivando o estabelecimento e a implementação de políticas públicas e incentivos econômicos voltados para a conservação ambiental e para o saneamento, a governança e a segurança hídrica e climática. E Inspirar a sociedade para proteger e investir em soluções hídricas e, com isso, contribuir com uma nova Cultura da Água.

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