Home - Trata Brasil https://tratabrasil.org.br/pt/ 2022-09-08T03:13:48-03:00 Trata Brasil Joomla! - Open Source Content Management Édison Carlos: Escolas sem banheiros e saneamento 2018-03-02T15:59:33-03:00 2018-03-02T15:59:33-03:00 https://tratabrasil.org.br/pt/?view=article&id=736&catid=36 Super User <p>Édison Carlos</p> <p>Janeiro de 2018 trouxe dois estudos que colocam o Brasil numa posição ainda mais desconfortável no cenário mundial.&nbsp;</p> <p>O primeiro, da Organização das Nações Unidas (ONU), inclui o país entre os cinco mais desiguais do mundo. O segundo estudo, o&nbsp;Censo Escolar, ajuda a explicar o primeiro, pois retrata a situação de escolas e alunos.&nbsp;</p> <p>Produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em parceria com as secretarias estaduais e municipais de educação, apresenta indicadores preocupantes.&nbsp;</p> <p>Das 116,5 mil escolas de ensino infantil no Brasil (alunos de 0 a 6 anos), 8,5% não possuem serviços essenciais de infraestrutura, como&nbsp;saneamento básico&nbsp;(acesso à água e coleta dos esgotos)&nbsp;e/ou&nbsp;energia elétrica. Significa dizer que quase 10 mil escolas não dispõem do que há de mais elementar.&nbsp;</p> <p>Somente 9,4% das creches e 12,6% das pré-escolas de zonas rurais possuem sistemas de esgotamento sanitário.&nbsp;</p> <p><strong>Falta de saneamento</strong></p> <p>Das 131,6 mil escolas do ensino fundamental (alunos de 6 a 14 anos), 41,6% estão ligadas à rede de esgoto, 52,3% dispõem apenas de fossa e em 6,1% não existe nenhum sistema de esgoto sanitário.&nbsp;</p> <p>Em 8,2% das unidades da rede fundamental —11&nbsp;mil&nbsp;escolas—&nbsp;não há sequer um banheiro.&nbsp;</p> <p>Recente documentário produzido pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a Sabesp, mostrou alunos relatando a falta de motivação em continuar frequentando as aulas por conta da degradante situação das instalações, o que foi confirmado por pais e professores.</p> <p>O censo detectou problemas ainda mais graves na região Norte —em especial no Acre, no Amazonas, no Pará e em Roraima.</p> <p>A ausência do&nbsp;saneamento básico, pilar primário da infraestrutura, é um problema do país há décadas. Embora o Brasil tenha dado&nbsp;passosimportantes, como a criação do Ministério das Cidades e o lançamento do Plano Nacional de Saneamento Básico, os avanços ocorrem de forma lenta na maioria dos municípios.&nbsp;</p> <p>Pelos números oficiais do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, da pasta da Cidade, 34 milhões de brasileiros ainda não possuem acesso à água tratada e pouco menos da metade da população não tem coleta de esgotos.&nbsp;</p> <p>No saneamento, o Brasil parou no século 19. Uma das dez maiores economias do mundo, não&nbsp;resolveu questões&nbsp;fundamentais.&nbsp;</p> <p>Ao não oferecer banheiros e sistemas de esgotamento sanitário adequados a crianças, professores e demais profissionais, comprometemos não apenas a saúde de gerações de brasileiros mas também sua aprendizagem.&nbsp;</p> <p>O Brasil precisa de novos rumos para sair do estado vexaminoso em que se encontra.</p> <p>ÉDISON CARLOS, engenheiro químico, é presidente-executivo do Instituto Trata Brasil</p> <p>Édison Carlos</p> <p>Janeiro de 2018 trouxe dois estudos que colocam o Brasil numa posição ainda mais desconfortável no cenário mundial.&nbsp;</p> <p>O primeiro, da Organização das Nações Unidas (ONU), inclui o país entre os cinco mais desiguais do mundo. O segundo estudo, o&nbsp;Censo Escolar, ajuda a explicar o primeiro, pois retrata a situação de escolas e alunos.&nbsp;</p> <p>Produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em parceria com as secretarias estaduais e municipais de educação, apresenta indicadores preocupantes.&nbsp;</p> <p>Das 116,5 mil escolas de ensino infantil no Brasil (alunos de 0 a 6 anos), 8,5% não possuem serviços essenciais de infraestrutura, como&nbsp;saneamento básico&nbsp;(acesso à água e coleta dos esgotos)&nbsp;e/ou&nbsp;energia elétrica. Significa dizer que quase 10 mil escolas não dispõem do que há de mais elementar.&nbsp;</p> <p>Somente 9,4% das creches e 12,6% das pré-escolas de zonas rurais possuem sistemas de esgotamento sanitário.&nbsp;</p> <p><strong>Falta de saneamento</strong></p> <p>Das 131,6 mil escolas do ensino fundamental (alunos de 6 a 14 anos), 41,6% estão ligadas à rede de esgoto, 52,3% dispõem apenas de fossa e em 6,1% não existe nenhum sistema de esgoto sanitário.&nbsp;</p> <p>Em 8,2% das unidades da rede fundamental —11&nbsp;mil&nbsp;escolas—&nbsp;não há sequer um banheiro.&nbsp;</p> <p>Recente documentário produzido pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a Sabesp, mostrou alunos relatando a falta de motivação em continuar frequentando as aulas por conta da degradante situação das instalações, o que foi confirmado por pais e professores.</p> <p>O censo detectou problemas ainda mais graves na região Norte —em especial no Acre, no Amazonas, no Pará e em Roraima.</p> <p>A ausência do&nbsp;saneamento básico, pilar primário da infraestrutura, é um problema do país há décadas. Embora o Brasil tenha dado&nbsp;passosimportantes, como a criação do Ministério das Cidades e o lançamento do Plano Nacional de Saneamento Básico, os avanços ocorrem de forma lenta na maioria dos municípios.&nbsp;</p> <p>Pelos números oficiais do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, da pasta da Cidade, 34 milhões de brasileiros ainda não possuem acesso à água tratada e pouco menos da metade da população não tem coleta de esgotos.&nbsp;</p> <p>No saneamento, o Brasil parou no século 19. Uma das dez maiores economias do mundo, não&nbsp;resolveu questões&nbsp;fundamentais.&nbsp;</p> <p>Ao não oferecer banheiros e sistemas de esgotamento sanitário adequados a crianças, professores e demais profissionais, comprometemos não apenas a saúde de gerações de brasileiros mas também sua aprendizagem.&nbsp;</p> <p>O Brasil precisa de novos rumos para sair do estado vexaminoso em que se encontra.</p> <p>ÉDISON CARLOS, engenheiro químico, é presidente-executivo do Instituto Trata Brasil</p> Dia Mundial da água: Consciência coletiva é necessária... 2018-03-05T15:58:54-03:00 2018-03-05T15:58:54-03:00 https://tratabrasil.org.br/pt/?view=article&id=735&catid=36 Super User <p><strong>Alpha FM</strong></p> <p>Por Édison Carlos – Presidente executivo do Instituto Trata Brasil</p> <p>O Brasil sempre foi considerado um país abençoado por ter cerca de 12% da água doce do planeta, e isso é ensinado nas escolas para crianças e jovens. Passa uma noção de que a água, por mais importante que seja, sempre estará disponível e hoje sabemos que isso não é verdade.</p> <p>Um dos problemas é que a disponibilidade de água é muito desigual, ou seja, a região Norte tem 6% da população e 70% da água doce; já a região Sudeste tem 40% da população e 6% da água doce. O Nordeste possui pouco mais de 3% da água doce e 29% da população, portanto, há locais muito frágeis em volume de água.</p> <p><strong>35 milhões sem acesso</strong></p> <p>Apesar dos avanços ao longo dos anos, é importante ressaltar que ainda temos mais de 35 milhões de brasileiros que não têm acesso à rede de abastecimento de água potável, de acordo com os últimos dados do SNIS, 2016 (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento). Outro principal fator que aumenta o problema está nas perdas de águas; elas são geralmente vazamentos, erros de leitura de hidrômetro e/ou furtos, os famosos “gatos”; hoje a média é de 38% de perdas, ocasionando sérios problemas em regiões que passam por estresse hídrico constante, como sudeste e nordeste.</p> <p>Crescemos num país onde fomos ensinados desde pequenos, com exceção do Nordeste, de que temos água em abundância e que dificilmente sofreremos com uma possível falta d’água. Entretanto, a incerteza dos fatores climáticos nos mostra algo diferente e colocam uma situação adversa do que aprendemos. Um dos principais desafios é reeducar a sociedade para com o tema recursos hídricos e mostrar a importância de usar conscientemente a água.</p> <p><strong>Mudança de hábitos</strong></p> <p>Fomos acostumados a usar a água potável para lavar calçadas, no vaso sanitário, para lavar automóveis, etc. e agora temos que inverter essa velha cultura. A gestão de nossos recursos também é precária e ainda temos dezenas de operadores de saneamento que perdem a pouca água</p> <p>que temos com os vazamentos e falta de medição, além de não tratar os esgotos gerados, poluindo os corpos hídricos.</p> <p>Nossa relação com a água precisa ser mais próxima; temos o costume de olhar para nossos rios, por exemplo, como nossos quintais, depositando todo tipo de coisa que não queremos mais. A partir do momento em que o brasileiro conhecer mais o problema e se identificar mais com a água, olhando como um bem precioso e fundamental para garantir bem-estar social, a conscientização acontecerá de maneira natural.</p> <p>Ao mesmo tempo, o cidadão precisa participar das discussões envolvendo os esgotos e todo o saneamento básico, exigindo que as prefeituras elaborem seus Planos Municipais de Saneamento Básico para garantir estabilidade hídrica para o futuro e uma melhor gestão das águas. Com este instrumento, muitos municípios podem impedir que rios, praias, córregos e o próprio solo sejam lugares de descarte de esgoto in natura.</p> <p><strong>Estimativas</strong></p> <p>Estimativas feitas pelo próprio Instituto Trata Brasil mostram que jogamos, por dia, na natureza, cerca de 5 mil piscinas olímpicas de esgoto não tratado, prejudicando diretamente a saúde da população e causando transtornos ambientais. Ao unir este conjunto de medidas, seguramente teremos um cidadão mais consciente.</p> <p>O saneamento é a infraestrutura mais básica de uma sociedade, a que traz mais benefícios à saúde das pessoas e ao meio ambiente. Estamos falando de levar água encanada para a população, retirar e tratar os dejetos de suas casas. Um dos principais problemas que vem decorrendo por muitos anos é a falta de vontade política para que as obras avançassem com a agilidade que deveriam; hoje temos mais problemas, além da vontade política: burocracia financeira, temos dezenas de obras paralisadas por questões jurídicas ou entraves nos projetos, dificuldades nos licenciamentos e mesmo ausência de projetos.</p> <p><strong>Vantagens</strong></p> <p>As vantagens de expansão do saneamento básico e redes de esgotos são inúmeras, além da valorização imobiliária, econômica, educacional e diminuição da proliferação de doenças que coloca em risco à saúde de toda população, especialmente das crianças, que estão entre as principais vítimas na faixa etária entre 0 e 5 anos com maior probabilidade de morrerem por doenças relacionadas a falta de acesso a esgoto coletado e tratado de forma adequada.</p> <p><strong>Alpha FM</strong></p> <p>Por Édison Carlos – Presidente executivo do Instituto Trata Brasil</p> <p>O Brasil sempre foi considerado um país abençoado por ter cerca de 12% da água doce do planeta, e isso é ensinado nas escolas para crianças e jovens. Passa uma noção de que a água, por mais importante que seja, sempre estará disponível e hoje sabemos que isso não é verdade.</p> <p>Um dos problemas é que a disponibilidade de água é muito desigual, ou seja, a região Norte tem 6% da população e 70% da água doce; já a região Sudeste tem 40% da população e 6% da água doce. O Nordeste possui pouco mais de 3% da água doce e 29% da população, portanto, há locais muito frágeis em volume de água.</p> <p><strong>35 milhões sem acesso</strong></p> <p>Apesar dos avanços ao longo dos anos, é importante ressaltar que ainda temos mais de 35 milhões de brasileiros que não têm acesso à rede de abastecimento de água potável, de acordo com os últimos dados do SNIS, 2016 (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento). Outro principal fator que aumenta o problema está nas perdas de águas; elas são geralmente vazamentos, erros de leitura de hidrômetro e/ou furtos, os famosos “gatos”; hoje a média é de 38% de perdas, ocasionando sérios problemas em regiões que passam por estresse hídrico constante, como sudeste e nordeste.</p> <p>Crescemos num país onde fomos ensinados desde pequenos, com exceção do Nordeste, de que temos água em abundância e que dificilmente sofreremos com uma possível falta d’água. Entretanto, a incerteza dos fatores climáticos nos mostra algo diferente e colocam uma situação adversa do que aprendemos. Um dos principais desafios é reeducar a sociedade para com o tema recursos hídricos e mostrar a importância de usar conscientemente a água.</p> <p><strong>Mudança de hábitos</strong></p> <p>Fomos acostumados a usar a água potável para lavar calçadas, no vaso sanitário, para lavar automóveis, etc. e agora temos que inverter essa velha cultura. A gestão de nossos recursos também é precária e ainda temos dezenas de operadores de saneamento que perdem a pouca água</p> <p>que temos com os vazamentos e falta de medição, além de não tratar os esgotos gerados, poluindo os corpos hídricos.</p> <p>Nossa relação com a água precisa ser mais próxima; temos o costume de olhar para nossos rios, por exemplo, como nossos quintais, depositando todo tipo de coisa que não queremos mais. A partir do momento em que o brasileiro conhecer mais o problema e se identificar mais com a água, olhando como um bem precioso e fundamental para garantir bem-estar social, a conscientização acontecerá de maneira natural.</p> <p>Ao mesmo tempo, o cidadão precisa participar das discussões envolvendo os esgotos e todo o saneamento básico, exigindo que as prefeituras elaborem seus Planos Municipais de Saneamento Básico para garantir estabilidade hídrica para o futuro e uma melhor gestão das águas. Com este instrumento, muitos municípios podem impedir que rios, praias, córregos e o próprio solo sejam lugares de descarte de esgoto in natura.</p> <p><strong>Estimativas</strong></p> <p>Estimativas feitas pelo próprio Instituto Trata Brasil mostram que jogamos, por dia, na natureza, cerca de 5 mil piscinas olímpicas de esgoto não tratado, prejudicando diretamente a saúde da população e causando transtornos ambientais. Ao unir este conjunto de medidas, seguramente teremos um cidadão mais consciente.</p> <p>O saneamento é a infraestrutura mais básica de uma sociedade, a que traz mais benefícios à saúde das pessoas e ao meio ambiente. Estamos falando de levar água encanada para a população, retirar e tratar os dejetos de suas casas. Um dos principais problemas que vem decorrendo por muitos anos é a falta de vontade política para que as obras avançassem com a agilidade que deveriam; hoje temos mais problemas, além da vontade política: burocracia financeira, temos dezenas de obras paralisadas por questões jurídicas ou entraves nos projetos, dificuldades nos licenciamentos e mesmo ausência de projetos.</p> <p><strong>Vantagens</strong></p> <p>As vantagens de expansão do saneamento básico e redes de esgotos são inúmeras, além da valorização imobiliária, econômica, educacional e diminuição da proliferação de doenças que coloca em risco à saúde de toda população, especialmente das crianças, que estão entre as principais vítimas na faixa etária entre 0 e 5 anos com maior probabilidade de morrerem por doenças relacionadas a falta de acesso a esgoto coletado e tratado de forma adequada.</p> Vergonha básica 2017-12-12T15:55:03-02:00 2017-12-12T15:55:03-02:00 https://tratabrasil.org.br/pt/?view=article&id=734&catid=36 Super User <p><strong>Revista Veja</strong></p> <p><strong>No ritmo atual, o Brasil só conseguirá oferecer água potável e tratamento de esgoto a todos os&nbsp;brasileiros na metade do século XXI – vinte anos depois da meta assumida com a ONU.&nbsp;</strong></p> <p>A cada 1 000 reais que se investissem na expansão do saneamento, a sociedade ganharia 1700 reais.&nbsp;</p> <p>Imagine um país gigante com mais de 207 milhões de habitantes onde metade da população não tem coleta de esgoto em sua residência, somente 42% dos esgotos existentes recebem algum tipo de tratamento e mais de 34 milhões de cidadãos não possuem nem mesmo acesso a água tratada. Esse é o Brasil. Em termos de saneamento, estamos na 1021 colocação no ranking global do Banco Mundial.</p> <p>Segundo o Plano Nacional de Saneamento Básico, conhecido pela sigla Plansab, o Brasil precisaria de cerca de 300 bilhões de reais para universalizar água e esgoto emvinte anos. Mas, ao contrário do que seria óbvio, a tendência de crescimento das despesas públicas com saneamento – na União, nos estados e nos municípios – foi brutalmente revertida a partir de 2013. No ano passado, os gastos ficaram em apenas 18 bilhões de reais – o pior ano desde 2007. Considerando-se o período que vai de 2007 a 2016, só 69,3% das despesas foram empenhadas e apenas 49,7% foram efetivamente realizadas.</p> <p>Neste ano, a situação ficou ainda pior. No primeiro semestre, a despesa da União caiu a quase um terço do valor gasto nos primeiros seis meses do ano anterior. E, para o ano que vem, o Orçamento federal prevê um gasto com saneamento de apenas 941 milhões de reais. Trata-se de uma redução de 32% em relação a este ano. Ou seja: gasta-se cada vez menos, e brutalmente menos, em saneamento, o que deixa o Brasil parado no século passado.</p> <p>Em 2015, a ONU lançou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). São dezessete objetivos e 169 metas que envolvem erradicação da pobreza, segurança alimentar, água e saneamento, entre outras. O Brasil é um dos signatários desse compromisso, que prevê “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável de água e saneamento para todas e todos” até 2030. Trocando em miúdos: o Brasil prometeu oferecer, em treze anos, acesso universal e equitativo a água e esgoto para todos.</p> <p>É uma meta improbabilíssima, caso nada seja feito. O Instituto Trata Brasil, que acompanha o assunto em todo o país, tem dados das 100 maiores cidades brasileiras. Os números mostram que, nos últimos dez anos, essas cidades avançaram menos de 1 ponto porcentual ao ano nesses indicadores. Se projetarmos esses avanços para os próximos anos, o Brasil levaria mais de quarenta anos para universalizar o saneamento, ou seja, só depois de 2050 – com sorte, vinte anos a mais do que o prazo assumido com a ONU. É lamentável que o país esteja a caminho de chegar à metade do século XXI com parte de sua população sem acesso a itens tão básicos como água e esgoto.</p> <p>Enquanto isso, segundo a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, contraditoriamente, 92,3% dos lares brasileiros têm alguém com celular, ante 66% de lares com algum tratamento de esgoto. Esse número é de 19% na Região Norte. E, infelizmente, a situação, em vez de melhorar, só piora.</p> <p>O mapa do saneamento, como tantos outros aspectos da realidade brasileira, é profundamente desigual. Em cidades como Santos, Franca e Limeira, todas no interior de São Paulo, 100% da população é atendida por coleta de esgoto. Já em Ananindeua (PA) e Porto Velho (RO), por exemplo, os porcentuais da população que tem tratamento de esgoto em sua residência são inferiores a 4%. Apenas a Sabesp, empresa de saneamento do Estado de São Paulo, é responsável por 28% de tudo o que é investido em saneamento no país.</p> <p>Para quem acha que saneamento é caro, é relevante ver o reverso da moeda. De acordo com dados oficiais do sistema público de saúde de 2015, a cidade de Ananindeua gastou 19,4 milhões de reais com doenças relacionadas à falta de saneamento básico, como diarreia, dengue e leptospirose. Já Franca, com 100% da população atendida pela rede de saneamento, desembolsou apenas 2% desse valor. Esse baixo avanço em água e esgoto, além de descumprir as promessas internacionais feitas pelo Brasil, prejudica a saúde da população, aumenta a degradação ambiental e leva à perda de recursos financeiros.</p> <p>No entanto, a erradicação do problema traria ganhos sociais e econômicos para a saúde – seriam menos 700000 pessoas internadas por doenças provocadas pelo esgoto não coletado e cerca de 2000 óbitos anuais a menos por doenças relacionadas à falta de saneamento básico. Teríamos, ainda, aumento da produtividade do trabalho, valorização dos imóveis, ganhos na educação e uma receita estimada em mais de 537 bilhões de reais em turismo. Os cálculos mostram que, na média do período que vai de 2015 a 2035, a cada 1000 reais que se investissem na expansão do saneamento, a sociedade ganharia 1700 reais. Ou seja, os benefícios compensariam, com certeza, os investimentos necessários.</p> <p>Se quisermos ir ainda mais longe, há países inspiradores que não somente garantiram à sua população o direito ao esgoto tratado como resolveram outras questões. É o caso de Israel, cujo índice de tratamento de esgoto chega a 90%. Esse esgoto, porém, é tratado e reutilizado, o que atenua o grave problema de escassez de água no país. Isso tudo acompanhado de um programa robusto de educação ambienta I nas escolas. Na Namíbia, a água do esgoto é transformada em água potável. Em Singapura, além de próprio para o consumo, o esgoto reciclado abastece as atividades industriais. Não nos custa sonhar.</p> <p>Voltando ao Brasil, é fundamental queo governo federal ofereça recursos de longo prazo, que governadores ajudem na busca por melhorias de gestão das empresas estaduais, que prefeitos deixem de ser passivos e procurem soluções, sozinhos ou em conjunto com outros municípios, que</p> <p>se ampliem as parcerias entre empresas públicas e privadas, que se promova a educação ambienta I com foco no uso racional da água e na valorização do saneamento.</p> <p>Em março de 2018, Brasília sediará o 82 Fórum Mundial da Água. Será a primeira vez que o evento acontecerá no Hemisfério Sul, e é de prever que o mundo todo estará atento ao Brasil e às discussões dos países quanto ao mais importante dos recursos naturais. Para nós, será a oportunidade de quebrar algumas resistências e aprender com boas práticas do mundo inteiro e, infelizmente, escancarar algumas feridas abertas.</p> <p>Precisamos tratar com seriedade um problema que envergonha esta nação, que está entre as dez maiores economias do planeta mas ainda apresenta índices de saneamento do século XIX. O saneamento tem de ser visto como questão de Estado, e não continuar dependendo da boa vontade de autoridade A ou B. Se não for assim, é certo que outros vexames internacionais virão. E quem paga o preço são sempre os mais desfavorecidos.</p> <p><strong>Revista Veja</strong></p> <p><strong>No ritmo atual, o Brasil só conseguirá oferecer água potável e tratamento de esgoto a todos os&nbsp;brasileiros na metade do século XXI – vinte anos depois da meta assumida com a ONU.&nbsp;</strong></p> <p>A cada 1 000 reais que se investissem na expansão do saneamento, a sociedade ganharia 1700 reais.&nbsp;</p> <p>Imagine um país gigante com mais de 207 milhões de habitantes onde metade da população não tem coleta de esgoto em sua residência, somente 42% dos esgotos existentes recebem algum tipo de tratamento e mais de 34 milhões de cidadãos não possuem nem mesmo acesso a água tratada. Esse é o Brasil. Em termos de saneamento, estamos na 1021 colocação no ranking global do Banco Mundial.</p> <p>Segundo o Plano Nacional de Saneamento Básico, conhecido pela sigla Plansab, o Brasil precisaria de cerca de 300 bilhões de reais para universalizar água e esgoto emvinte anos. Mas, ao contrário do que seria óbvio, a tendência de crescimento das despesas públicas com saneamento – na União, nos estados e nos municípios – foi brutalmente revertida a partir de 2013. No ano passado, os gastos ficaram em apenas 18 bilhões de reais – o pior ano desde 2007. Considerando-se o período que vai de 2007 a 2016, só 69,3% das despesas foram empenhadas e apenas 49,7% foram efetivamente realizadas.</p> <p>Neste ano, a situação ficou ainda pior. No primeiro semestre, a despesa da União caiu a quase um terço do valor gasto nos primeiros seis meses do ano anterior. E, para o ano que vem, o Orçamento federal prevê um gasto com saneamento de apenas 941 milhões de reais. Trata-se de uma redução de 32% em relação a este ano. Ou seja: gasta-se cada vez menos, e brutalmente menos, em saneamento, o que deixa o Brasil parado no século passado.</p> <p>Em 2015, a ONU lançou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). São dezessete objetivos e 169 metas que envolvem erradicação da pobreza, segurança alimentar, água e saneamento, entre outras. O Brasil é um dos signatários desse compromisso, que prevê “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável de água e saneamento para todas e todos” até 2030. Trocando em miúdos: o Brasil prometeu oferecer, em treze anos, acesso universal e equitativo a água e esgoto para todos.</p> <p>É uma meta improbabilíssima, caso nada seja feito. O Instituto Trata Brasil, que acompanha o assunto em todo o país, tem dados das 100 maiores cidades brasileiras. Os números mostram que, nos últimos dez anos, essas cidades avançaram menos de 1 ponto porcentual ao ano nesses indicadores. Se projetarmos esses avanços para os próximos anos, o Brasil levaria mais de quarenta anos para universalizar o saneamento, ou seja, só depois de 2050 – com sorte, vinte anos a mais do que o prazo assumido com a ONU. É lamentável que o país esteja a caminho de chegar à metade do século XXI com parte de sua população sem acesso a itens tão básicos como água e esgoto.</p> <p>Enquanto isso, segundo a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, contraditoriamente, 92,3% dos lares brasileiros têm alguém com celular, ante 66% de lares com algum tratamento de esgoto. Esse número é de 19% na Região Norte. E, infelizmente, a situação, em vez de melhorar, só piora.</p> <p>O mapa do saneamento, como tantos outros aspectos da realidade brasileira, é profundamente desigual. Em cidades como Santos, Franca e Limeira, todas no interior de São Paulo, 100% da população é atendida por coleta de esgoto. Já em Ananindeua (PA) e Porto Velho (RO), por exemplo, os porcentuais da população que tem tratamento de esgoto em sua residência são inferiores a 4%. Apenas a Sabesp, empresa de saneamento do Estado de São Paulo, é responsável por 28% de tudo o que é investido em saneamento no país.</p> <p>Para quem acha que saneamento é caro, é relevante ver o reverso da moeda. De acordo com dados oficiais do sistema público de saúde de 2015, a cidade de Ananindeua gastou 19,4 milhões de reais com doenças relacionadas à falta de saneamento básico, como diarreia, dengue e leptospirose. Já Franca, com 100% da população atendida pela rede de saneamento, desembolsou apenas 2% desse valor. Esse baixo avanço em água e esgoto, além de descumprir as promessas internacionais feitas pelo Brasil, prejudica a saúde da população, aumenta a degradação ambiental e leva à perda de recursos financeiros.</p> <p>No entanto, a erradicação do problema traria ganhos sociais e econômicos para a saúde – seriam menos 700000 pessoas internadas por doenças provocadas pelo esgoto não coletado e cerca de 2000 óbitos anuais a menos por doenças relacionadas à falta de saneamento básico. Teríamos, ainda, aumento da produtividade do trabalho, valorização dos imóveis, ganhos na educação e uma receita estimada em mais de 537 bilhões de reais em turismo. Os cálculos mostram que, na média do período que vai de 2015 a 2035, a cada 1000 reais que se investissem na expansão do saneamento, a sociedade ganharia 1700 reais. Ou seja, os benefícios compensariam, com certeza, os investimentos necessários.</p> <p>Se quisermos ir ainda mais longe, há países inspiradores que não somente garantiram à sua população o direito ao esgoto tratado como resolveram outras questões. É o caso de Israel, cujo índice de tratamento de esgoto chega a 90%. Esse esgoto, porém, é tratado e reutilizado, o que atenua o grave problema de escassez de água no país. Isso tudo acompanhado de um programa robusto de educação ambienta I nas escolas. Na Namíbia, a água do esgoto é transformada em água potável. Em Singapura, além de próprio para o consumo, o esgoto reciclado abastece as atividades industriais. Não nos custa sonhar.</p> <p>Voltando ao Brasil, é fundamental queo governo federal ofereça recursos de longo prazo, que governadores ajudem na busca por melhorias de gestão das empresas estaduais, que prefeitos deixem de ser passivos e procurem soluções, sozinhos ou em conjunto com outros municípios, que</p> <p>se ampliem as parcerias entre empresas públicas e privadas, que se promova a educação ambienta I com foco no uso racional da água e na valorização do saneamento.</p> <p>Em março de 2018, Brasília sediará o 82 Fórum Mundial da Água. Será a primeira vez que o evento acontecerá no Hemisfério Sul, e é de prever que o mundo todo estará atento ao Brasil e às discussões dos países quanto ao mais importante dos recursos naturais. Para nós, será a oportunidade de quebrar algumas resistências e aprender com boas práticas do mundo inteiro e, infelizmente, escancarar algumas feridas abertas.</p> <p>Precisamos tratar com seriedade um problema que envergonha esta nação, que está entre as dez maiores economias do planeta mas ainda apresenta índices de saneamento do século XIX. O saneamento tem de ser visto como questão de Estado, e não continuar dependendo da boa vontade de autoridade A ou B. Se não for assim, é certo que outros vexames internacionais virão. E quem paga o preço são sempre os mais desfavorecidos.</p> 10 anos da Lei do Saneamento Básico: de quantas décadas mais precisaremos? 2017-02-02T14:33:59-02:00 2017-02-02T14:33:59-02:00 https://tratabrasil.org.br/pt/?view=article&id=731&catid=36 Super User <p>Neste m&ecirc;s de janeiro celebramos 10 anos da <strong>Lei do Saneamento B&aacute;sico, </strong>o importante marco regulat&oacute;rio dessa infraestrutura t&atilde;o importante, mas t&atilde;o esquecida. A Lei 11.445, de 2007, estabelece as diretrizes nacionais para o setor, mas tamb&eacute;m trouxe regras e introduziu um conjunto de novos instrumentos de gest&atilde;o, como a regula&ccedil;&atilde;o e o planejamento com vistas a melhorar a efici&ecirc;ncia das empresas operadoras e se chegar, enfim, &agrave; almejada universaliza&ccedil;&atilde;o.</p> <p>Cabe ressaltar que nos &uacute;ltimos anos o saneamento b&aacute;sico ocupou uma agenda de destaque para a sociedade, principalmente em fun&ccedil;&atilde;o de suas car&ecirc;ncias configuradas nas crises sanit&aacute;ria, causada pelo mosquito transmissor <em>aedes aegypti</em> (dengue, zika e febre chikungunya), e h&iacute;drica das regi&otilde;es Sudeste e Nordeste. Mesmo a Campanha da Fraternidade Ecum&ecirc;nica de 2016 tamb&eacute;m tratou do tema, e isso contribuiu muito para levar a discuss&atilde;o aos cantos mais remotos do pa&iacute;s, &agrave;s &aacute;reas pobres e distantes, al&eacute;m de bairros nobres.</p> <p>Resta, ent&atilde;o, avaliarmos o que a Lei trouxe de bom, se ajudou a enfrentar os entraves e desafios da universaliza&ccedil;&atilde;o, a melhoria da presta&ccedil;&atilde;o dos servi&ccedil;os de &aacute;gua e esgotos, a implementa&ccedil;&atilde;o do planejamento, da regula&ccedil;&atilde;o e do controle social dos servi&ccedil;os.</p> <p>Em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; universaliza&ccedil;&atilde;o, previu-se por meio do Plano Nacional de Saneamento B&aacute;sico &ndash; Plansab - que o Pa&iacute;s precisaria de R$ 304 bilh&otilde;es e demoraria 20 anos para alcan&ccedil;ar o acesso universal da &aacute;gua e dos esgotos. Por&eacute;m, bastou somente um ano ap&oacute;s a edi&ccedil;&atilde;o do plano para que os cen&aacute;rios estabelecidos nas metas ficassem obsoletos, especialmente por conta dos (muito diferentes) &iacute;ndices previstos de infla&ccedil;&atilde;o e crescimento do PIB. Para mostrar a dist&acirc;ncia, estudos recentes da Confedera&ccedil;&atilde;o Nacional da Ind&uacute;stria (CNI) apontam que no cen&aacute;rio atual somente chegar&iacute;amos &agrave; universaliza&ccedil;&atilde;o do abastecimento de &aacute;gua em 2043 e do esgotamento sanit&aacute;rio em 2054.</p> <p>Segundo o Minist&eacute;rio das Cidades, no Sistema Nacional de Informa&ccedil;&otilde;es sobre Saneamento &ndash; SNIS, o &iacute;ndice de pessoas atendidas com &aacute;gua tratada aumentou de 80,9% em 2007 para 83,3% em 2015, ou seja 2,4 p.p. (pontos percentuais) em 9 anos. Na coleta de esgotos de 42,0% em 2007 para 50,3% (s&atilde;o 8,3 p.p.) e tratamento dos esgotos gerados de 32,5% em 2007 para 42,7% em 2015 (10,2 p.p.). Significa que em todos esses indicadores mal chegamos a 1 p.p. de progresso ao ano, o que &eacute; vergonhoso. J&aacute; nas perdas de &aacute;gua pot&aacute;vel nos sistemas de distribui&ccedil;&atilde;o, por vazamentos e roubos, a redu&ccedil;&atilde;o foi de 7 p.p., mas o &iacute;ndice de 2015 se manteve em 36,7%, ainda muito elevado se lembrarmos as car&ecirc;ncias de &aacute;gua em v&aacute;rias regi&otilde;es do Brasil.</p> <p>Se pensarmos que esse pouco avan&ccedil;o ainda est&aacute; concentrada nas &aacute;rea urbanas e regulares das cidades, o que dizer do quase nenhum avan&ccedil;o no atendimento de &aacute;gua e esgotos nas &aacute;reas rurais e nas &aacute;reas irregulares. Estudo do Trata Brasil mostrou que somente nas 100 maiores cidades brasileiras h&aacute; mais de 10 milh&otilde;es de pessoas em aglomerados subnormais, em sua maioria sem acesso aos servi&ccedil;os b&aacute;sico de &aacute;gua e esgoto. A solu&ccedil;&atilde;o do problema extrapola os prestadores de servi&ccedil;os, que legalmente s&atilde;o impedidos de prover infraestrutura nestas &aacute;reas, ent&atilde;o resta torcer para haver um maior entendimento entre Prefeituras, Minist&eacute;rio P&uacute;blico, empresas prestadoras, Ag&ecirc;ncias Reguladoras e sociedade.</p> <p>Outro problema diz respeito &agrave; ociosidade das redes de esgoto, locais onde existem redes de coleta de esgotos, mas as pessoas n&atilde;o conectam suas casas. Um levantamento identificou que mais 3,5 milh&otilde;es de pessoas nas 100 maiores cidades poderiam ter suas casas ligadas &agrave;s redes de esgoto, mas n&atilde;o se interligam ao sistema por n&atilde;o querer: pagar a conta do esgoto e danificar o piso de casa para passar a tubula&ccedil;&atilde;o; outros alegam n&atilde;o terem sido informados ou se justificam com outras raz&otilde;es. A solu&ccedil;&atilde;o do problema fica a cargo das prefeituras, mas essas pouco fazem para exigir que o cidad&atilde;o fa&ccedil;a a sua parte.</p> <p>No tocante &agrave; implementa&ccedil;&atilde;o do planejamento como linha condutora dos investimentos em saneamento, o pr&oacute;prio Governo Federal n&atilde;o deu o exemplo ao promover sucessivos adiamentos nos prazos impostos aos munic&iacute;pios para entregarem seus Planos Municipais de Saneamento B&aacute;sico &ndash; PMSB. De 2013 passou a 2015, 2017 e na C&acirc;mara Federal h&aacute; projetos de Lei que pretendem adiar ainda os prazos para 2019 e 2020, a depender do porte do munic&iacute;pio. Como a entrega do PMSB &eacute; condi&ccedil;&atilde;o para acesso a recursos da Uni&atilde;o, esperava-se que as cidades aderissem rapidamente, mas isso n&atilde;o aconteceu. E os adiamentos desacreditaram este importante instrumento, mas principalmente desmotivaram aqueles munic&iacute;pios que cumpriram os prazos.</p> <p>Outro grande avan&ccedil;o trazido pela Lei do Saneamento foi a imposi&ccedil;&atilde;o de que todos os munic&iacute;pios devem ter seus servi&ccedil;os regulados por uma Ag&ecirc;ncia Reguladora. A regula&ccedil;&atilde;o efetiva e de qualidade &eacute; o &uacute;nico instrumento com resultados de curto prazo para ampliar o atendimento e melhorar a efici&ecirc;ncia do setor, mas ficou restrita a poucos estados da federa&ccedil;&atilde;o. &Eacute; fundamental termos ag&ecirc;ncias estruturadas, com independ&ecirc;ncia decis&oacute;ria, autonomia administrativa, or&ccedil;ament&aacute;ria e financeira, transpar&ecirc;ncia, tecnicidade, celeridade e objetividade.</p> <p>Por fim, a Lei instituiu o controle social, fortemente apoiado pelo Governo Federal, mas muito pouco resultado foi notado e a popula&ccedil;&atilde;o continua distante da discuss&atilde;o. Precisamos, por exemplo, fortalecer os conselhos sociais envolvidos com o saneamento e as entidades de defesa dos consumidores.</p> <p>Apesar de todas as dificuldades expostas, a Lei 11445 foi fundamental para os avan&ccedil;os conseguidos, mesmo que t&iacute;midos. O que n&atilde;o podemos &eacute; continuar assistindo passivamente a polui&ccedil;&atilde;o do meio ambiente e a prolifera&ccedil;&atilde;o de doen&ccedil;as aguardando outras d&eacute;cadas para dar ao cidad&atilde;o o mais essencial: uma &aacute;gua boa para beber e seus esgotos coletados e tratados.</p> <p>&nbsp;</p> <p><em> Este artigo foi escrito por &Eacute;dison Carlos (presidente executivo do Instituto Trata Brasil) e Alceu Galv&atilde;o, doutor em Sa&uacute;de P&uacute;blica e s&oacute;cio da REINFRA.</em></p> <p>Neste m&ecirc;s de janeiro celebramos 10 anos da <strong>Lei do Saneamento B&aacute;sico, </strong>o importante marco regulat&oacute;rio dessa infraestrutura t&atilde;o importante, mas t&atilde;o esquecida. A Lei 11.445, de 2007, estabelece as diretrizes nacionais para o setor, mas tamb&eacute;m trouxe regras e introduziu um conjunto de novos instrumentos de gest&atilde;o, como a regula&ccedil;&atilde;o e o planejamento com vistas a melhorar a efici&ecirc;ncia das empresas operadoras e se chegar, enfim, &agrave; almejada universaliza&ccedil;&atilde;o.</p> <p>Cabe ressaltar que nos &uacute;ltimos anos o saneamento b&aacute;sico ocupou uma agenda de destaque para a sociedade, principalmente em fun&ccedil;&atilde;o de suas car&ecirc;ncias configuradas nas crises sanit&aacute;ria, causada pelo mosquito transmissor <em>aedes aegypti</em> (dengue, zika e febre chikungunya), e h&iacute;drica das regi&otilde;es Sudeste e Nordeste. Mesmo a Campanha da Fraternidade Ecum&ecirc;nica de 2016 tamb&eacute;m tratou do tema, e isso contribuiu muito para levar a discuss&atilde;o aos cantos mais remotos do pa&iacute;s, &agrave;s &aacute;reas pobres e distantes, al&eacute;m de bairros nobres.</p> <p>Resta, ent&atilde;o, avaliarmos o que a Lei trouxe de bom, se ajudou a enfrentar os entraves e desafios da universaliza&ccedil;&atilde;o, a melhoria da presta&ccedil;&atilde;o dos servi&ccedil;os de &aacute;gua e esgotos, a implementa&ccedil;&atilde;o do planejamento, da regula&ccedil;&atilde;o e do controle social dos servi&ccedil;os.</p> <p>Em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; universaliza&ccedil;&atilde;o, previu-se por meio do Plano Nacional de Saneamento B&aacute;sico &ndash; Plansab - que o Pa&iacute;s precisaria de R$ 304 bilh&otilde;es e demoraria 20 anos para alcan&ccedil;ar o acesso universal da &aacute;gua e dos esgotos. Por&eacute;m, bastou somente um ano ap&oacute;s a edi&ccedil;&atilde;o do plano para que os cen&aacute;rios estabelecidos nas metas ficassem obsoletos, especialmente por conta dos (muito diferentes) &iacute;ndices previstos de infla&ccedil;&atilde;o e crescimento do PIB. Para mostrar a dist&acirc;ncia, estudos recentes da Confedera&ccedil;&atilde;o Nacional da Ind&uacute;stria (CNI) apontam que no cen&aacute;rio atual somente chegar&iacute;amos &agrave; universaliza&ccedil;&atilde;o do abastecimento de &aacute;gua em 2043 e do esgotamento sanit&aacute;rio em 2054.</p> <p>Segundo o Minist&eacute;rio das Cidades, no Sistema Nacional de Informa&ccedil;&otilde;es sobre Saneamento &ndash; SNIS, o &iacute;ndice de pessoas atendidas com &aacute;gua tratada aumentou de 80,9% em 2007 para 83,3% em 2015, ou seja 2,4 p.p. (pontos percentuais) em 9 anos. Na coleta de esgotos de 42,0% em 2007 para 50,3% (s&atilde;o 8,3 p.p.) e tratamento dos esgotos gerados de 32,5% em 2007 para 42,7% em 2015 (10,2 p.p.). Significa que em todos esses indicadores mal chegamos a 1 p.p. de progresso ao ano, o que &eacute; vergonhoso. J&aacute; nas perdas de &aacute;gua pot&aacute;vel nos sistemas de distribui&ccedil;&atilde;o, por vazamentos e roubos, a redu&ccedil;&atilde;o foi de 7 p.p., mas o &iacute;ndice de 2015 se manteve em 36,7%, ainda muito elevado se lembrarmos as car&ecirc;ncias de &aacute;gua em v&aacute;rias regi&otilde;es do Brasil.</p> <p>Se pensarmos que esse pouco avan&ccedil;o ainda est&aacute; concentrada nas &aacute;rea urbanas e regulares das cidades, o que dizer do quase nenhum avan&ccedil;o no atendimento de &aacute;gua e esgotos nas &aacute;reas rurais e nas &aacute;reas irregulares. Estudo do Trata Brasil mostrou que somente nas 100 maiores cidades brasileiras h&aacute; mais de 10 milh&otilde;es de pessoas em aglomerados subnormais, em sua maioria sem acesso aos servi&ccedil;os b&aacute;sico de &aacute;gua e esgoto. A solu&ccedil;&atilde;o do problema extrapola os prestadores de servi&ccedil;os, que legalmente s&atilde;o impedidos de prover infraestrutura nestas &aacute;reas, ent&atilde;o resta torcer para haver um maior entendimento entre Prefeituras, Minist&eacute;rio P&uacute;blico, empresas prestadoras, Ag&ecirc;ncias Reguladoras e sociedade.</p> <p>Outro problema diz respeito &agrave; ociosidade das redes de esgoto, locais onde existem redes de coleta de esgotos, mas as pessoas n&atilde;o conectam suas casas. Um levantamento identificou que mais 3,5 milh&otilde;es de pessoas nas 100 maiores cidades poderiam ter suas casas ligadas &agrave;s redes de esgoto, mas n&atilde;o se interligam ao sistema por n&atilde;o querer: pagar a conta do esgoto e danificar o piso de casa para passar a tubula&ccedil;&atilde;o; outros alegam n&atilde;o terem sido informados ou se justificam com outras raz&otilde;es. A solu&ccedil;&atilde;o do problema fica a cargo das prefeituras, mas essas pouco fazem para exigir que o cidad&atilde;o fa&ccedil;a a sua parte.</p> <p>No tocante &agrave; implementa&ccedil;&atilde;o do planejamento como linha condutora dos investimentos em saneamento, o pr&oacute;prio Governo Federal n&atilde;o deu o exemplo ao promover sucessivos adiamentos nos prazos impostos aos munic&iacute;pios para entregarem seus Planos Municipais de Saneamento B&aacute;sico &ndash; PMSB. De 2013 passou a 2015, 2017 e na C&acirc;mara Federal h&aacute; projetos de Lei que pretendem adiar ainda os prazos para 2019 e 2020, a depender do porte do munic&iacute;pio. Como a entrega do PMSB &eacute; condi&ccedil;&atilde;o para acesso a recursos da Uni&atilde;o, esperava-se que as cidades aderissem rapidamente, mas isso n&atilde;o aconteceu. E os adiamentos desacreditaram este importante instrumento, mas principalmente desmotivaram aqueles munic&iacute;pios que cumpriram os prazos.</p> <p>Outro grande avan&ccedil;o trazido pela Lei do Saneamento foi a imposi&ccedil;&atilde;o de que todos os munic&iacute;pios devem ter seus servi&ccedil;os regulados por uma Ag&ecirc;ncia Reguladora. A regula&ccedil;&atilde;o efetiva e de qualidade &eacute; o &uacute;nico instrumento com resultados de curto prazo para ampliar o atendimento e melhorar a efici&ecirc;ncia do setor, mas ficou restrita a poucos estados da federa&ccedil;&atilde;o. &Eacute; fundamental termos ag&ecirc;ncias estruturadas, com independ&ecirc;ncia decis&oacute;ria, autonomia administrativa, or&ccedil;ament&aacute;ria e financeira, transpar&ecirc;ncia, tecnicidade, celeridade e objetividade.</p> <p>Por fim, a Lei instituiu o controle social, fortemente apoiado pelo Governo Federal, mas muito pouco resultado foi notado e a popula&ccedil;&atilde;o continua distante da discuss&atilde;o. Precisamos, por exemplo, fortalecer os conselhos sociais envolvidos com o saneamento e as entidades de defesa dos consumidores.</p> <p>Apesar de todas as dificuldades expostas, a Lei 11445 foi fundamental para os avan&ccedil;os conseguidos, mesmo que t&iacute;midos. O que n&atilde;o podemos &eacute; continuar assistindo passivamente a polui&ccedil;&atilde;o do meio ambiente e a prolifera&ccedil;&atilde;o de doen&ccedil;as aguardando outras d&eacute;cadas para dar ao cidad&atilde;o o mais essencial: uma &aacute;gua boa para beber e seus esgotos coletados e tratados.</p> <p>&nbsp;</p> <p><em> Este artigo foi escrito por &Eacute;dison Carlos (presidente executivo do Instituto Trata Brasil) e Alceu Galv&atilde;o, doutor em Sa&uacute;de P&uacute;blica e s&oacute;cio da REINFRA.</em></p>