*Édison Carlos
24 de novembro é o Dia do Rio; não do maravilhoso estado ou da cidade carioca, mas dos rios do Brasil que insistem em sobreviver. Fazemos o possível para que nossos rios sejam apenas meios de transportes de nossos dejetos, destroços, inutilidades, mas mesmo assim eles insistem em sobreviver.
Os rios do Brasil estão em risco há décadas. Resultado da absoluta falta de planejamento das grandes cidades, muitos de nossos mais importantes rios, verdadeiras dádiva da natureza, passaram a ser vistos como geradores de problemas para o crescimento imobiliário e viário das maiores cidades. E foram sendo transformados, alterados, contaminados... Recentemente, dados do IDS (Indicadores de Desenvolvimento Sustentável) publicados pelo IBGE mostram a triste situação de rios emblemáticos como o Tietê em São Paulo, Capiberibe e Ipojuca em Pernambuco, Iguaçu no Paraná, Rio dos Sinos e Gravataí no Rio Grande do Sul, das Velhas em Minas Gerais, Paraíba do Sul entre SP e Rio de Janeiro, entre outros.
A maior parte dos rios urbanos então hoje são apenas condutores de nossos esgotos, dos esgotos coletados e não tratados ou simplesmente dos que nem coletados são. Pelos números do Ministério das Cidades, recentemente publicados no SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, base 2009, menos de 40% do esgoto coletado no país recebe algum tipo de tratamento. O destino mais comum são nossos aniversariantes de hoje – os rios... e o oceano também recebe passivamente boa parte desta carga de poluição.
Segundo o PLANSAB – Plano Nacional do Saneamento Básico, em discussão entre governo e setores, são necessários R$ 420 bilhões para resolver o problema dos quatro serviços ligados ao saneamento básico – água tratada, coleta e tratamento dos esgotos, lixo doméstico e drenagem das águas pluviais. Somente para entregar água tratada, coletar e tratar os esgotos são necessários R$ 270 bilhões em obras pelo país. A Região Norte, detentora da floresta e da maior bacia hidrográfica, é a que mais sofre com a falta destes serviços, como mostrado nos resultados do Censo 2010.
Portanto, os rios, que eram motivo de inspiração, passam a ser motivo de transpiração de muitas autoridades do país, agora responsáveis por corrigir problemas causados por pelo menos duas décadas de absoluto abandono e atraso nos investimentos em saneamento básico – a mais pobre das infraestruturas nacionais. Muitas autoridades deste país esqueceram que os rios também são as fontes mais comuns para captação da água fornecida à população, o que criou um ciclo perverso de poluição e aumento nos custos de tratamento, com penalização, como sempre, do consumidor.
Água limpa é sim sinônimo de vida, mas a água contaminada é o maior sinônimo de doenças. É então muito fácil verificar porque mais da metade das doenças dos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos tem origem na água imprópria. São diarreias, cólera, esquistossomose, verminoses, infecções de pele e tantas outras doenças sobrecarregando nossos postos de saúde com altos custos ao orçamento das prefeituras; recurso que poderia estar sendo destinado à educação, ao transporte ou mesmo á saúde preventiva.
E apesar deste quadro dramático, nossos rios reagem rapidamente a qualquer sinal de melhora na poluição e se dão ao luxo de apresentar alguns sinais de vida, mesmo quando declarados “biologicamente mortos”.