Cidades sede da Copa gastam bilhões, mas ainda sofrerão com a falta de saneamento básico
O Brasil viveu o sentimento de sediar o maior evento de futebol. A Copa do Mundo nos deixou animados, mas sem muitos legados relevantes no setor do saneamento básico. Melhoria na água tratada, na coleta e tratamento dos esgotos, por exemplo, mais uma vez foram esquecidos pelos gestores públicos e as doze capitais que receberam os jogos da Copa evoluíram timidamente nesses serviços essenciais para a população.
Em muitos casos, o contraste entre a beleza dos novos estádios, “Padrão FIFA”, é muito gritante, pois fora do estádio existe uma realidade bem distinta, com até mesmo esgotos percorrendo as principais ruas de alguns desses grandes municípios.
O “Ranking do Saneamento Básico” divulgado em 2013 pelo Instituto Trata Brasil (dados do SNIS 2011) classificou as 100 maiores cidades do país de acordo com os serviços prestados à população. Ao fazer um recorte das 12 capitais que iriam receber os jogos, a situação era muito preocupante. Apenas Curitiba, capital do Paraná, está entre as dez melhores cidades. Todos os curitibanos já recebiam água tratada, 96% da população tinha esgoto coletado e 87% do esgoto era tratado. A capital do país, Brasília, figurava na 15ª posição, com Belo Horizonte e São Paulo na 18ª e 23ª posição.
Para o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, é triste ver que a chegada da Copa não trouxe avanço nesses serviços: “Saneamento básico deveria ser a primeira coisa a ser resolvida quando falamos nas melhorias necessárias para a Copa do Mundo. Cidades como Natal, Manaus, Cuiabá, Recife, por exemplo, ainda possuem grandes problemas nessa área e poderiam ter evoluído muito com os recursos da Copa, mas infelizmente, como todas as outras cidades sede, não aproveitaram esse momento.”
A cidade de Natal, considerada a mais crítica no “Ranking do Saneamento”, tinha em 2011 apenas 33% do esgoto tratado. Já o estado da Bahia, que teve Salvador como sede dos jogos, apresentou, em 2013, 45 mil internações por doenças infecciosas relacionadas ao contato com água contaminada. Nesse mesmo ano, Minas Gerais contabilizou R$ 16 milhões de gastos com horas não trabalhadas devido aos afastamentos de trabalhadores por diarreia ou vômito – doenças relacionadas à falta de saneamento. Em Mato Grosso, onde Cuiabá sediou três jogos da primeira fase, a valorização dos imóveis poderia atingir até 10% caso a universalização do saneamento básico.
A situação é crítica, segundo os dados do próprio Governo Federal: segundo dados de 2012, somente 48,3% da população possui coleta de esgoto 38,7% dos esgotos são tratados.
O Governo tem como meta universalizar os serviços de água e esgotos até 2033, portanto em 20 anos, mas o setor precisaria investir ao menos R$ 15 bilhões por ano e estamos muito longe disso. No ritmo atual só teremos saneamento para todos próximos a 2050.