[caption id="attachment_6699" align="aligncenter" width="1024"] Foto: Wander Roberto (Coca-Cola)[/caption]
Por Édison Carlos ? Presidente executivo do Instituto Trata Brasil para Alpha FM
O Brasil sempre foi considerado um país abençoado por ter cerca de 12% da água doce do planeta, e isso é ensinado nas escolas para crianças e jovens. Passa uma noção de que a água, por mais importante que seja, sempre estará disponível e hoje sabemos que isso não é verdade. Um dos problemas é que a disponibilidade de água é muito desigual, ou seja, a região Norte tem 6% da população e 70% da água doce; já a região Sudeste tem 40% da população e 6% da água doce. O Nordeste possui pouco mais de 3% da água doce e 29% da população, portanto, há locais muito frágeis em volume de água.
Apesar dos avanços ao longo dos anos, é importante ressaltar que ainda temos mais de 35 milhões de brasileiros que não têm acesso à rede de abastecimento de água potável, de acordo com os últimos dados do SNIS, 2016 (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento). Outro principal fator que aumenta o problema está nas perdas de águas; elas são geralmente vazamentos, erros de leitura de hidrômetro e/ou furtos, os famosos ?gatos?; hoje a média é de 38% de perdas, ocasionando sérios problemas em regiões que passam por estresse hídrico constante, como sudeste e nordeste.
Crescemos num país onde fomos ensinados desde pequenos, com exceção do Nordeste, de que temos água em abundância e que dificilmente sofreremos com uma possível falta d?água. Entretanto, a incerteza dos fatores climáticos nos mostra algo diferente e colocam uma situação adversa do que aprendemos. Um dos principais desafios é reeducar a sociedade para com o tema recursos hídricos e mostrar a importância de usar conscientemente a água.
Fomos acostumados a usar a água potável para lavar calçadas, no vaso sanitário, para lavar automóveis, etc. e agora temos que inverter essa velha cultura. A gestão de nossos recursos também é precária e ainda temos dezenas de operadores de saneamento que perdem a pouca água que temos com os vazamentos e falta de medição, além de não tratar os esgotos gerados, poluindo os corpos hídricos.
Nossa relação com a água precisa ser mais próxima; temos o costume de olhar para nossos rios, por exemplo, como nossos quintais, depositando todo tipo de coisa que não queremos mais. A partir do momento em que o brasileiro conhecer mais o problema e se identificar mais com a água, olhando como um bem precioso e fundamental para garantir bem-estar social, a conscientização acontecerá de maneira natural. Ao mesmo tempo, o cidadão precisa participar das discussões envolvendo os esgotos e todo o saneamento básico, exigindo que as prefeituras elaborem seus Planos Municipais de Saneamento Básico para garantir estabilidade hídrica para o futuro e uma melhor gestão das águas. Com este instrumento, muitos municípios podem impedir que rios, praias, córregos e o próprio solo sejam lugares de descarte de esgoto in natura.
Estimativas feitas pelo próprio Instituto Trata Brasil mostram que jogamos, por dia, na natureza, cerca de 5 mil piscinas olímpicas de esgoto não tratado, prejudicando diretamente a saúde da população e causando transtornos ambientais. Ao unir este conjunto de medidas, seguramente teremos um cidadão mais consciente.
O saneamento é a infraestrutura mais básica de uma sociedade, a que traz mais benefícios à saúde das pessoas e ao meio ambiente. Estamos falando de levar água encanada para a população, retirar e tratar os dejetos de suas casas. Um dos principais problemas que vem decorrendo por muitos anos é a falta de vontade política para que as obras avançassem com a agilidade que deveriam; hoje temos mais problemas, além da vontade política: burocracia financeira, temos dezenas de obras paralisadas por questões jurídicas ou entraves nos projetos, dificuldades nos licenciamentos e mesmo ausência de projetos.
As vantagens de expansão do saneamento básico e redes de esgotos são inúmeras, além da valorização imobiliária, econômica, educacional e diminuição da proliferação de doenças que coloca em risco à saúde de toda população, especialmente das crianças, que estão entre as principais vítimas na faixa etária entre 0 e 5 anos com maior probabilidade de morrerem por doenças relacionadas a falta de acesso a esgoto coletado e tratado de forma adequada.