?Vede, não desprezeis alguns destes pequeninos? ? disse Jesus (Mt 18:10)
Dessa forma vemos que até o Cristo naquele tempo já se preocupava com a situação de nossas crianças. Naquela época, a natureza era pródiga com abundante água e sem contaminação. Hoje, a situação é dramática: o governo federal investe 9 bilhões por ano em saneamento básico. O montante pode parecer promissor, mas está longe do ideal. Para cumprir a meta do Plano Nacional de Saneamento que prevê esgotos tratados em todo país até 2030, o governo deveria investir em média 15 bilhões anuais. Soma-se a isso o fato de que 13 milhões de brasileiros não tem nem se quer acesso a banheiro. E os índices de falta de acesso a sanitários são proporcionais ao aumento da mortalidade infantil. A sobrevivência do brasileiro, principalmente de nossas crianças depende da higiene e da educação. Infelizmente estamos muito distantes da realização desse sonho.
É impressionante o número de crianças abandonadas e desassistidas atualmente no Brasil. São crianças que vivem sem rumo, sem destino, entregues à própria sorte, aprendendo nas ruas o que de pior existe. São crianças frutos de lares desfeitos, lares miseráveis e até agressivos. Como sempre, são as crianças pobres as que mais sofrem na disputa pela vida, ficando sempre às margens da estrada, pisoteadas e esquecidas.
Estamos diante de um mundo materializado e confuso e de um País cheio de problemas onde o povo começa a ficar angustiado pela perda da esperança de dias melhores.
No Brasil, os políticos em sua maioria, não trabalham visando o bem-estar de sua gente, os projetos sociais levam muitos anos para serem aprovados em nossas Casas Legislativas, os atos de corrupção de brasileiros que detêm partículas de poder são citados pela imprensa quase que diariamente, e assim, no meio desse rolo desorganizado, encontra-se a nossa criança. É certo que o mundo jamais viveu uma harmonia universal. Mas o que se observa hoje é a postura de uma sociedade passivamente emudecida, indiferente e tolerante diante de tantas injustiças e atos desabonadores contra o ser humano em seu início de vida.
A criança marginalizada é uma consequência da distorção diante do estrago social do mundo, do atropelo entre os homens em busca de um lugar ao sol. Nossas taxas de mortalidade infantil nos colocam na faixa indesejável dos países sub-desenvolvidos. Isso há muito tempo.
Submetidas a toda sorte de agressões, abandonadas, punidas injustamente desde pequenas, crescem portadoras de conflitos de amor, de proteção, de compreensão e confiança. As crianças que vivem nessa situação, e que são muitas, infelizmente, têm baixa autoestima e um frágil senso de identidade, crescendo sem saber qual o seu futuro. Serão tristes, medrosas ou agressivas, emocionalmente instáveis e algumas vezes deprimidas. Mais cedo ou mais tarde, de acordo com os acontecimentos tristes que viveram na infância, ao atingir a faixa da adolescência, explodirão de acordo com as agressões sofridas.
Como serão essas crianças no futuro? A declaração dos Direitos da Criança instituída em 1959, reza em seus 10 artigos o valor e a necessidade que a criança tem, em qualquer nível social, de ser amada, bem cuidada pelos pais e pelos governos, recebendo proteção, educação e saúde. Infelizmente isso só ficou no papel. É uma lástima, uma tristeza, como o Brasil joga fora todos os dias um imenso tesouro que é a segurança do seu futuro, representado pela sua criança. As crianças brasileiras em grande número estão crescendo e vivendo num mundo de sacrifícios só tendo o choro como como sinal de sofrimento e a morte como sinal de protesto.
A criança ficou entre esse mundo de gente preterida. Nossas crianças vivem divididas em dois grupos: as que podem aspirar algo na sociedade e as que não têm nenhuma perspectiva de felicidade e bem-estar em seus dias de futuro. Nesse segundo grupo estão a maioria das crianças brasileiras. Nossas cifras são aterradoras: 16 milhões de crianças abandonadas, 40 milhões portadoras de verminose e endemias de toda espécie e outros tantos filhos da miséria que vivem de pais subempregados. Nenhum País pode crescer e progredir com o seu povo inculto e doente. Nossa mortalidade infantil é uma das maiores do mundo.
? O amor não se ensina, se aprende. O amor não se compra, nem se presenteia, mas se adquire com seu esforço pessoal?.
Para pensar seriamente na necessidade de proteger e socorrer em primeiro lugar nossas crianças em todas as circunstâncias, lembremo-nos da imortal obra de Gabriela Mistral: ? Nós somos culpados de muitos erros e muitas faltas, mas nosso pior crime é o abandono das crianças desprezando a fonte da vida. Muitas coisas que precisamos podem esperar. A criança não pode. Ainda agora o seu corpo está em formação. Seu sangue está sendo feito e seus sentidos estão se desenvolvendo. Para ela não podemos responder amanhã. Seu nome é hoje?.
O meu caro professor Mário Rigatto, de Porto Alegre, nos deu há muitos anos a verdadeira dimensão dos ideais dos jovens quando afirmou sua esperança ?de que todos sejam abrigados para que não sintam frio; que todos sejam alimentados para que não sintam fome; que todos sejam assistidos para que não tenham doença ? e cheguem a uma conquista maior: a preservação da capacidade de amar.
Nenhum vento ajuda a um barco sem rumo, sem leme, sem direção. Sem farol, dentro da noite, os barcos se perdem. É o que está acontecendo com o nosso querido Brasil. Sem bússola os navios de desorientam.
Agradecemos a Deus termos em nosso país duas Instituições notáveis como o Instituto Trata Brasil e a Pastoral da Criança, grandiosas organizações que lutam desesperadamente pela felicidade da população brasileira, principalmente de suas crianças.
Vamos esperar. Esperar é viver e sonhar com um Brasil organizado, completo em saneamento básico e com sua criança saudável e educada.