Hoje, 20 de fevereiro, é datado o Dia Mundial da Justiça Social. A data foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o intuito de promover esforços para enfrentar questões sociais, como a pobreza, falta de emprego e também questões relacionadas ao saneamento básico.
Na oportunidade entrevistamos Murilo Bustamante, Promotor de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro e embaixador doInstituto Trata Brasil, para falar sobre a relação das atitudes da população e órgãos públicos com a justiça social em áreas irregulares.
Entrevista sobre Justiça Social: Murilo Bustamante
- Como a falta de saneamento básico no Brasil reflete e acentua a desigualdade social?A falta de saneamento básico deveria ser um problema medieval, mas, ao que parece, insistimos em manter para as futuras gerações. O aspecto que mais tem me chamado a atenção é justamente este: as crianças e jovens estão perdendo oportunidades e sofrendo em decorrência da falta de saneamento.
Problemas de saúde que os afastam das escolas, prejudicam sua formação e desenvolvimento, lhe retiram o lazer e convivência em comunidade, que sacrificam a economia local e levam a um cenário de desesperança. É muito triste ver rios, praias e lagos poluídos.
É doloroso ver casas invadidas por águas contaminadas por esgoto a cada chuva que cai. Diferente dos bairros guarnecidos por redes de saneamento, as comunidades carentes são as que mais sofrem.
- Existe proibições em relação ao acesso do saneamento básico em áreas irregulares, como isso pode ser debatido para que esta situação seja modificada?A experiência mostra que estas ocupações irregulares alcançam, por um meio ou outro, o fornecimento de serviços de energia elétrica e até mesmo improvisam sistemas alternativos de abastecimento de água. Mas é raro ver iniciativas de captação e destinação dos efluentes sanitários.
É preciso enfrentar o problema, há mecanismos de política tarifária para subsidiar o atendimento de comunidades carentes, há tecnologia para prover sistemas de tratamento comunitários, há um ordenamento jurídico orientador de processos de regularização fundiária sustentável com a consequente promoção dos serviços essenciais.
O que falta é compromisso, político e social para a busca de soluções. É notável a inoperância das agências reguladoras e a ausência de articulação com os órgãos de planejamento urbano. Isto acaba por conduzir a discussão a um Poder Judiciário desprovido de meios e informação qualificada acerca das causas e soluções possíveis. É preciso fazer cumprir a legislação vigente e colocar os diversos atores na mesa de discussão.
- Você acredita que em algum determinado momento o próprio cidadão pode contribuir na justiça social? Ou isso cabe aos gestores públicos somente?As soluções passam pelos instrumentos de cobrança e de construção de políticas públicas. Não estou falando apenas do exercício do voto ou de formulação de denúncias aos órgãos detentores de poder de polícia. Mas sim da participação direta e ativa nos diversos conselhos comunitários de planejamento urbano e de gestão de recursos hídricos, a exemplo dos Comitês de Bacia. Os casos de sucesso sempre passam pelo efetivo e permanente engajamento da comunidade.