O espelho negro em que o rio Pinheiros se transforma sempre que o sol se põe na cidade de São Paulo, possível de se observar pelas janelas de qualquer um dos arranha-céus de m² valioso que o margeiam, é um espetáculo de efeitos múltiplos. Começa com um sentimento de encantamento misturado com um quê de surpresa e finda numa sensação de decepção acompanhada do pensamento ?pena que é sujo e fedido?.
Mas isso pode mudar. Com um chamada pública, que encerra hoje, o governo paulista quer encontrar uma nova tecnologia capaz despoluir as águas do Pinheiros, hoje considerado um rio biologicamente morto, formado 80% por esgoto. A iniciativa sucede uma tentativa anterior de despoluição, que durou dez anos e demandou mais de 100 milhões de reais em investimento.
Baseada na técnica da flotação, que usava produtos químicos e oxigênio para transformar a sujeira em lodo, facilitando sua retirada posterior, a empreitada foi suspensa em 2011 por não descontaminar de forma satisfatória a água, que continuava com altos níveis de metais pesados.
Encontrar tecnologias mais adequadas é um passo importante no processo de recuperação do rio Pinheiros. Só que sem outras ações coordenadas, o uso de aparatos e maquinarias científicas pode se tornar inócua. Especialistas ouvidos são unânimes ao afirmar que a ressurreição do Pinheiros só vai acontecer se houver um grande pacto entre os governos municipais e o Estado de São Paulo.
Diariamente, milhares de litros de esgoto sem tratamento chegam ao rio através de seus afluentes, 17 ao todo, que nascem em outros municípios. ?Cada prefeitura precisa fazer a sua parte, acabando com as ligações clandestinas de esgotos e melhorando também o sistema de coleta e tratamento?, afirma Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil.